quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ambição: qualidade ou defeito?


Ser ambicioso é, afinal, bom ou ruim? Isso depende essencialmente do tipo de ambição que cada um de nós alimenta

Por Eugenio Mussak

Há predicados que são obviamente elogiosos, enquanto outros são depreciativos. Dizer que alguém é culto ou boa gente equivale a elogiar. Já chamar alguém de arrogante, burro ou vulgar não deixa dúvidas sobre o baixo conceito que temos desse indivíduo. E quando se é classificado como ambicioso? Isso é um elogio ou uma crítica?

Recentemente deparei com uma discussão acalorada com um grupo de executivos durante um workshop, em que se procurava definir os atributos da liderança e do empreendedorismo.

_ Não há grandes líderes que não sejam ambiciosos - disse um jovem.

_Os mais ambiciosos são os empreendedores, que transformam ideias em projetos - retrucou outro candidato a milionário.

O assunto rendeu e as conclusões, afinal, foram esclarecedoras. A primeira foi que sem ambição o ser humano ainda estaria morando nas cavernas. Foi por desejar uma vida melhor, mais segura, que nosso ancestral botou seu recém-surgido córtex pré-frontal para imaginar novas possibilidades e seu polegar opositor para fazer as coisas funcionarem como ele desejava.
A criatividade e o trabalho, vistos dessa forma, são instrumentos a serviço da ambição humana e, como tal, podem ser bem ou mal usados. Destreza é uma questão de treino, mas iniciativa depende da vontade, e esta varia tanto entre as pessoas quanto a cor do cabelo ou a predisposição para engordar. Tem de tudo.

A segunda conclusão foi que, assim como a intensidade da ambição varia entre as pessoas, também varia o tipo. Sim, há mais de um tipo de ambição, e justamente essas características é que teriam influência sobre a postura da pessoa e até sobre o trabalho ou a posição para a qual ela está mais indicada na empresa e na sociedade em geral.

O comum é que se atribua ao ambicioso o forte desejo de ganhar dinheiro e, apesar de não haver nada de errado com isso, foi dessa visão limitada que nasceu a dúvida se ambição é uma qualidade ou um defeito. Em 1904, o sociólogo alemão Max Weber escreveu um extenso artigo intitulado "A ética protestante". No ano seguinte publicou outro, em continuação, chamado "O espírito do capitalismo". Anos depois, a junção das duas reflexões e dos dois títulos deu origem a sua obra mais conhecida, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

Ao tentar entender as causas do enriquecimento de algumas nações, como a Inglaterra e a Alemanha, e a estagnação econômica e social de outras, Weber identificou, entre outras, a maneira como a religião reinante interpreta o enriquecimento pessoal. Suas observações mostraram que os países de predomínio do catolicismo aceitavam a ética da humildade como sinônimo de pobreza. Para eles, ganhar dinheiro era pecaminoso, não agradava a Deus. Já os protestantes, especialmente os calvinistas, aceitaram que ganhar dinheiro com o trabalho duro é uma forma de seguir os ensinamentos divinos. Para eles, as habilidades humanas, como a arte e o comércio, são dádivas divinas que devem ser estimuladas e valorizadas. E bem pagas, claro.
Ainda que esta não seja a única causa do enriquecimento, a não pecaminização do dinheiro contribuiu para o desenvolvimento dessas nações durante os séculos 19 e 20. Olhando mais de perto, vamos verificar que a ambição produz riqueza e, quando bem conduzida, produz desenvolvimento. Para isso, temos que entender que há mais de um tipo de ambição e que a combinação deles pavimenta o melhor caminho.

· Ter

Esta é a ambição clássica, a de ambicionar dinheiro e bens materiais e que é, com frequência, confundida com ambição propriamente dita. Apesar de não haver erro algum em querer ganhar dinheiro, possuir bens, gostar de luxos, esse tipo de ambição, quando não compensada por bons atributos morais, corre o risco de deslizar para a vala lamacenta da vulgaridade. O erro, em resumo, estaria em se limitar a ambição a essa primeira categoria.

· Ser

Esta, na discussão com os jovens executivos, foi classificada como a "ambição dos grandes homens", aqueles que desejam deixar uma imagem positiva. Afinal, como você quer ser visto por seus filhos, amigos e, principalmente, por você mesmo quando se olha no espelho da consciência?

Há quem deseje ser reconhecido por sua elegância, outros por sua cultura, alguns por serem confiáveis. Todos nos lembramos de alguém que é simpático, agradável, bom, disponível. E nos aproximamos dele, ao mesmo tempo que evitamos aqueles que nunca se preocuparam com desenvolver essas qualidades em sua própria personalidade.

A ambição de ser é subjetiva, está longe de ser tangível como ambicionar ter sua própria empresa ou um apartamento de luxo. Mas é tão ambição quanto. Em outras palavras, é um projeto de futuro, que, como todos os demais, merece atenção diária, planejamento, intenção.

· Aprender

Basta uma rápida olhada sobre o mundo em que vivemos para se perceber a diversidade de opções de aprendizado. Livros, sites, novas áreas de conhecimento, línguas que podemos aprender sem sair de casa, poe¬mas antigos e novos, habilidades clássicas e competências modernas.

· Fazer

Conheço pessoas cujo desejo de realizar é tão forte que se transformaram em dínamos de produção. Em geral, muito trabalhadores não estão satisfeitos a não ser que estejam produzindo, criando, inovando. Essa é a ambição dos empreendedores, daqueles que abrem companhias, conquistam mercados, inventam produtos ou se candidatam a síndico do prédio e se tornam referências comunitárias. São os fazedores, sem os quais o mundo estagna.

· Transformar

Há muito a mudar no mundo para que ele venha a ser um bom lugar para se viver. Injustiças, desigualdades, medos estão ao nosso redor. Mudanças são necessárias em todos os lugares, não podemos nos acomodar.

Essa é a visão dos que têm ambição por transformar o mundo, pelo menos a parcela sobre a qual podemos exercer a influência de nossas ideias e ações. O mundo está em transformação crescente e tem gente que não se contenta em ser observador, quer ser protagonista.

O conjunto da obra

Como vimos, ter ambição é muito mais do que querer ganhar dinheiro. Quando essa é a única ambição, seria melhor se a chamássemos de ganância. E o mais interessante é que, quando a ambição se resume ao ter, é mais provável que nunca se realize. Ganhar dinheiro é consequência.

A conclusão do grupo foi que a ambição varia em escala e qualidade. Os líderes teriam com maior força a ambição do ser e a do transformar. Os empreendedores seriam mais ambiciosos em ter, aprender e fazer. Como em quase tudo, o equilíbrio é sempre o mais desejável.

De qualquer maneira, o tema ambição deve ser olhado com cuidado, pois, quando a mesma não é acompanhada por qualidades, pode ser frustrante ou angustiante. Para resumir o cuidado - principalmente o de não confundir ambição com insatisfação -, lembro um texto do genial Millôr Fernandes sobre o assunto:

Certo dia uma rica senhora viu, num antiquário, uma cadeira que era uma beleza. Negra, feita de mogno e cedro, custava uma fortuna. Era tão bela, que a mulher não titubeou - entrou, pagou, levou para casa.

A cadeira era tão bonita que os outros móveis, antes tão lindos, começaram a parecer insuportáveis à simpática senhora. (Era simpática.) Ela então resolveu vender todos os móveis e comprar outros que pudessem se equiparar à maravilhosa cadeira. E vendeu-os e comprou outros.

Mas, então, a casa, que antes parecia tão bonita, ficou tão bem mobilada que se estabeleceu uma desarmonia flagrante entre casa e móveis. E a senhora começou a achar a casa horrível. E vendeu a casa e comprou uma outra maravilhosa.

Mas dentro daquela casa magnífica, mobilada de maneira esplendorosa, a mulher começou, pouco a pouco, a achar seu marido mesquinho. E trocou de marido.

Mas mesmo assim não conseguia ser feliz. Pois naquela casa magnífica, com aqueles móveis admiráveis e aquele marido fabuloso, todo mundo começou a achá-la extremamente vulgar.

Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/carreira-dinheiro/reportagem/carreira/ambicao-qualidade-ou-defeito-648957.shtml?origem=vida-simples

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Fui traído(a) no amor, e agora?

Por Paulo Ghiraldelli Jr*

Fui imaginando que o Jô Soares iria me fazer uma pergunta sobre adultério. Pois, se há uma pergunta que aparece para quem fala ou escreve sobre o amor é essa, a célebre questão da “traição”. Como a conversa não foi por aí, resta agora eu mesmo tocar no assunto, uma vez que, novamente, os leitores – principalmente as leitoras – têm insistido no tema.

Vejam só que eu não escapei de falar a palavra “adultério” como sinônimo de “traição”! Pois é! Não escapei do vocabulário popular. Não há quem não faça isso. É errado? É certo?  Adultério é adultério, traição é traição. Por que tomamos tais palavras como se pudessem ser intercambiáveis? Bem, pela prática comum entre nós de acreditar que a monogamia é uma regra que se torna moral senão por uma coisa: a promessa de que se troco intimidades com uma pessoa, não devo trocar com outra. Ao menos não no mesmo período. O amor completo, que inclui o sexo, implica em troca de intimidades. Fico sabendo dos segredos de meu parceiro ou parceira na cama. Não de todos os segredos, mas de alguns fundamentais. Podem ser importantes, podem ser banais. Mas, não importa, são segredos! E é isso que faz com que o adultério se pareça com a traição. Ir para a cama com outro ou outra é levar o segredo dele ou dela para outro ou outra. É isso, enfim, que machuca.

Ora, quando digo isso, não são poucos os que não entendem e replicam: “ora, posso muito bem ir para a cama de outro ou outra e não dizer nada, não abrir a boca sobre a pessoa oficial, com quem mantenho um relacionamento estável, então, que segredo eu estaria contando?” É exatamente isso que muitos homens e mulheres não entendem, não passamos segredos por contar ou não alguma coisa, entregamos segredos porque o grande segredo é a intimidade, são os suores trocados, as juras de amor, os cheiros, talvez os tais feromônios! Esse momento, essa vivência, forma um campo magnético, um local de segredo.  Criar esse mesmo ambiente com outro é, de certa forma, levar uma parte do parceiro oficial para o convívio com outro. Eis aí o grande drama da dor do traído.

Quer apostar que é isso? Eu explico!

Quando um homem é traído, ele quer saber quem é o outro e não se furta em pedir detalhes. Talvez, mesmo dolorido ao extremo, ele se excite com os detalhes. Ele quer poder formar uma imagem da esposa ou namorada fazendo sexo oral com o outro. Um descuido, e pode até perguntar se ela tomou o sêmem do outro ou não. Não são poucos os homens que se comportam de modo ridículo nessa hora, mesmo sabendo que estão sendo ridículos. As mulheres perguntam outros detalhes, mas também querem saber de pequenas coisas. A mulher traída quer saber, principalmente, no que a outra é melhor que ela – quer saber especificidades do corpo da outra. Quer saber o lugar da traição. Fica com mais raiva, ainda, se descobrir que foi na sua própria cama! Essa conversa entre casais, quando as traições são expostas, nada são senão a busca de confirmação do que é temido: que fluídos foram trocados no amor. Saber disso é, em parte, materializar a intimidade, tentar ver o que da intimidade oferecida para o parceiro ou parceira, que é palpável, que foi parar no corpo do outro ou outra, que serviu de substância para a montagem do novo momento de intimidade, aquele que caracterizou a traição.

Há mulheres que levam isso ao extremo, consideram a efetivamente dolorosa quando seu parceiro não só penetrou a outra, mas trocou longos beijos com ela. Há homens que fazem algo parecido, mas em relação à posição do amor, querem saber se a mulher ficou de quatro para o outro. E, é claro, como já disse, se fez ou não sexo oral. Troca de fluídos é o que importa. Ou melhor dizendo: é o que se teme. Pois nessa troca é que se materializa, se petrifica, se consolida que uma intimidade foi transferida “materialmente” para a construção da outra intimidade. A situação é quase que metafísica, se é que não é mesmo metafísica. Mas, como toda metafísica que se faz fora de época de metafísica, cai-se rapidamente para a busca de um ponto absoluto e indestrutível que precisa ser material. Uma intimidade é revelada para a outra porque fornece material para a outra. Há uma espécie de reificação do amor, ele se torna coisa. Mas há também um fetichismo, de coisa que ele vira, ele passa a ser, logo, uma coisa viva, um monte de fluídos que correram de um lado e que, então, são oferecidos de outro lado.

Troquei fluídos com você. Você levou parte de meu corpo com você. E então, na cama de outro ou outra, você soltou seus fluídos, junto com os meus, para seu novo parceiro ou parceira. É essa estranha sensação que faz com que chamemos o adultério de traição. Você me levou para a cama do outro sem eu saber que eu estava lá. Eu era sua, você me entregou para outra, para uma mulher! Eu era seu, você me entregou para a outro, para um homem! Há aí, também, um outro elemento: a traição também assim se caracteriza porque você me fez homossexual. Você colocou os meus fluídos, trocados com você, no caldo de outros fluídos, material este de gente do mesmo sexo que eu. Sinto-me então realmente traído ou traída.

Há graus para a percepção disso. Caso todos percebessem isso dessa maneira, assim, não seria preciso o filósofo tentar explicar o adultério como traição. Algumas pessoas não conseguirão enxergar essa relação de cunho metafísico. Irão ficar no banal, ou seja, irão dizer assim: “ah, não é nada disso, eu só quero que ele seja meu e não seja de outro, não quero que ele diga para mim que me ama e então ame outra”. Mas, ficar nisso é ficar no banal. Desbanalizar o banal é conseguir olhar para o sexo no adultério, algo tão comum, descrevendo-o com um vocabulário novo. Não tão novo. O vocabulário que escolhi aqui é posto numa formulação nova. Mas, o que eu disse, não é senão o que é possível ouvir nas brigas de casais. Tudo que falei acima é realmente dito. As pessos conversam assim a quatro paredes, perguntam detalhes, querem saber. Elas querem poder reconstruir o sexo na traição não para sofrerem duas vezes e se desencantarem como o parceiro ou parceira que os traiu. Nada disso. Elas querem mesmo é saber como que os fluídos ficaram ao final, como foi a troca no corpo a corpo. Por isso se quer tanto saber sobre o beijo na boca, a troca de salivas, ou o sexo oral. “Você chupou o pau dele, mas engoliu?”

Pode parecer esquisito tudo isso. Mas, quanto mais velho ficamos, mais podemos saber que uma tal situação não nos é estranha. Algumas pessoas mais pudicas podem não ter tido esse comportamento, quando de se colocar em pratos limpos uma traição. Mas, tal comportamento não é incomum. É na linguagem que a briga conduz que é possível colher tudo que é necessário saber para poder ver como é que consideramos o adultério uma traição. Doar nossa intimidade ao outro – é isto que é o trair. E isso que nos faz efetivamente sofrer.

Quando podemos escapar disso, nos certificando que não houve troca de intimidades para além do que podemos suportar, perdoamos a traição. Há a reconciliação. Todavia, o amor é um cristal, o melhor é nunca quebrá-lo. Pois, de fato, não há concerto para quebra de cristal. Um homem inteligente nunca trai a mulher que ele ama e que o ama, pois não haverá volta. Uma relação adúltera é o começo de um relacionamento e o fim de outro. Não tem como. Assim, se alguém ama sua pardeira e a trai, ele não é um “galinhão”, ele é outro tipo de animal, ele é “burro”.  Como não ser burro? Ah, simples: basta que saibamos que não somos monogâmicos por natureza e, sim, por decisão cultural. Poucos de nós sabe disso. Por isso, muitos de nós constroem suas próprias infelicidades.
*Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo, escritor e professor da UFRRJ

Fonte: http://ghiraldelli.pro.br/2011/11/01/fui-traidoa-no-amor-e-agora/

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A saúde óssea e as dificuldades em repor as perdas de cálcio


Acaba de ser publicado na revista médica "Annals of Internal Medicine" um trabalho que define como ineficientes as plataformas vibratórias como forma de melhorar a massa óssea de mulheres com osteopenia. O dispositivo lembra uma balança, dessas que geralmente temos em casa, com as quais nos pesamos diariamente. A ideia inicial era de que ao nos posicionarmos durante 20 minutos diários em cima de uma delas, a vibração causaria mobilização do mecanismo ósseo que levaria a formação de novas células de osso novo, onde seria posteriormente depositado o cálcio, mineral responsável pela resistência do nosso esqueleto.

A pesquisa avaliou 202 mulheres na menopausa, todas com osteopenia e em uso de suplementos de cálcio e vitamina D. Ao final de 12 meses de uso das tais plataformas, não houve diferença entre as mulheres submetidas ou não às sessões de vibração. Esses resultados demonstraram, conclusivamente, a impossibilidade de mais essa opção terapêutica para o difícil tratamento da perda de massa óssea.

Osteopenia e osteoporose são termos que vem se tornando muito conhecidos, principalmente entre o público feminino, devido à grande freqüência dessas alterações por volta da menopausa. Trata-se de ossos frágeis e propensos a fraturas. Os mecanismos conhecidos como “turnover ósseo” ou seja, a reabsorção de osso velho e a formação de osso novo sofre desaceleração e o resultado final é um menor aporte de cálcio nos ossos,  com desarranjo da microarquitetura óssea,  fragilidade e propensão a fraturas.

Devido às dificuldades no tratamento da osteoporose, o melhor que temos a fazer é prevenir. Para isso, as recomendações são de dieta rica em cálcio,  produção adequada  de vitamina D através da exposição segura aos raios solares e atividade física que predispõe à melhora do “turnover” ósseo e acelera formação óssea.

Quando não há mais como prevenir e a perda do cálcio alcança os níveis de osteoporose, nós  precisamos lançar mão de todas essas recomendações, aliadas à suplementação de cálcio e vitamina D, além dos medicamentos anti reabsortivos. O tratamento é prolongado, oneroso e muitas vezes sujeito a efeitos colaterais que inviabilizam sua manutenção a longo prazo, como seria necessário.

Ao contrário das plataformas vibratórias, as atividades físicas em que pisamos no chão, caminhando ou correndo, assim como os exercícios de musculação, já foram exaustivamente comprovadas como eficientes na prevenção e no tratamento da osteoporose. Aliás, foi daí que surgiu a frustrada idéia de que poderíamos alcançar o mesmo efeito com a passiva utilização das plataformas. 

Fonte: http://comersemculpa.blog.uol.com.br/arch2011-12-01_2011-12-15.html#2011_12-06_20_45_04-142670378-0

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A reeducação postural global (RPG).


Por Daniela da Costa Maia*

A REEDUCAÇÃO POSTURAL GLOBAL (RPG) é um método revolucionário criado pelo fisioterapeuta francês PHILIPPE EMMANUEL SOUCHARD para a correção de patologias do sistema musculoesquelético. Partindo do sintoma para chegar até a causa de uma dor ou um problema no sistema musculoesquelético, a RPG trata o indivíduo como um todo, porque cada um tem a sua própria resistência à agressão e sua própria maneira de reagir a ela, muitas vezes adotando padrões individuais para evitar uma dor ou um bloqueio. Durante cada sessão, o/a fisioterapeuta utiliza microajustes em alongamento com o paciente em pé, sentado ou deitado. Pode ser indicada, sem limite de idade, para a maioria das patologias, agudas ou crônicas, do sistema musculoesquelético com sintomas (dor, formigamento, tontura) como hérnia de disco, lombalgia, ciática, artrose, hérnia de hiato, azia, cãibras, ombro congelado, joanete, problemas circulatórios, torcicolo, tensão muscular, dor de cabeça; ou sem sintomas, como escoliose, hipercifose dorsal (costas encurvadas), problemas vertebrais, hiperlordose lombar, desvios dos pés e dos joelhos, pé chato, pés cavos.

* M. Sc. Daniela da Costa Maia.  Fisioterapeuta, Mestre em Saúde Ambiente, Especialista em Neurofuncional e Formação no Conceito Bobath. Professora titular de Fisioterapia aplicada a pediatria e Órteses e próteses da Universidades Tiradentes / UNIT.Formação em RPG Original Philippe Souchard. Formação em RPG Avançado em Cervical Philippe Souchard. Formação em Pilates. Fisioterapeuta Rpgista do método Coluna da Casa do Corpo.
Membro da ABRAFIN - Sociedade Brasileira de Fisioterapeutas Neurofuncional.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O poder da amizade.

Laços afetivos ajudam a superar o desconforto em uma sociedade cada vez mais individualista e solitária

 Por Maria Consuêlo Passos*


Compartilhar a vida. Eis um grande desafio em tempos de hipervalorização da individualidade e de enfraquecimento dos laços. Enfrentamos uma época de contradições em que, de um lado, vivemos cada vez mais solitários e, de outro, criamos permanentemente novas possibilidades de convivência. Hoje são inquestionáveis os desdobramentos da família e a abertura para diferentes modos de relações amorosas, parentais e filiais. Isso significa que as sociedades mais libertárias acolhem as idiossincrasias das demandas amorosas e sexuais dos seus sujeitos e lhes oferecem oportunidades de procriação.

Além disso, verificamos uma crescente reabilitação das possibilidades de fazer amizades, incentivadas pela variedade de contextos que favorecem o encontro, com distintas finalidades, seja para o lazer, a prática de esportes e da religião ou mesmo na militância em diferentes associações de defesa dos direitos civis e da cidadania. Entretanto, mesmo com o incremento desses espaços de convivência, a vida continua cada vez mais solitária, e as relações, mais efêmeras nos grandes centros urbanos. Tais evidências são reveladas não só nas pesquisas, mas também na clínica, onde os sofrimentos psíquicos advindos da solidão, da violência relacional e das autodestruições continuam em escala ascendente. Por mais que as descobertas técnico-científicas favoreçam a manutenção da vida, continuamos vulneráveis aos perigos do contato humano.

O individualismo e a solidão têm se tornado características muito fortes da vida nas sociedades ocidentais, obrigando os cidadãos a buscar novas experiências que pudessem sustentar o desconforto e o sofrimento advindos dessas imposições sociais. Analisando esse contexto, a amizade seria uma opção às imposições da sociedade e representa uma saída para a fragilidade das relações surgidas com as exigências da modernização que produziram uma vida solitária e ameaçadora. Entretanto, esse aspecto compensatório da amizade não é o que mais interessa ao filósofo Michel Foucault, um estudioso do tema, e sim o seu caráter transgressivo e de resistência, na medida em que este impulsiona a invenção de formas de vida capazes de implementar uma existência libertadora. Afinal, ele via na amizade a possibilidade de transpor as amarras institucionais das relações, de romper com as formas preestabelecidas e criar novas maneiras de estar criativamente com o outro.

Ao tentar decifrar os sentidos da amizade, Foucault imprime à discussão uma dimensão ética por meio da qual os sujeitos são capazes de romper com os padrões de moralidade vigentes e redimensionar sua vida, criando um estilo próprio de existência. Esse estilo poderá ser recriado permanentemente na presença do outro, o que nos permite pensar em uma sociabilidade que foge ao caráter burocrático e institucionalizado, duas facetas execradas pelo pensamento foucaultiano, que pretendia, acima de qualquer coisa, evidenciar dois aspectos: reinventar a vida por meio de suas relações e barrar o poder inerente à dominação de um sujeito sobre o outro.

É preciso reconhecer que algumas dessas evidências trazidas por Foucault se tornaram realidade. Embora a vida solitária e a vulnerabilidade dos laços de afeto venham revelando um efeito nefasto, adoecendo pessoas e levando-as a diferentes tipos de sofrimento psíquico, é necessário reconhecer que nas últimas décadas têm surgido várias formas de convívio: a família vem sendo reinventada, dando lugar a deslocamentos e transformações nas suas funções e papéis. Hoje é possível verificar, por exemplo, fortes laços e amizade em casais que procuram ajuda de outros para uma procriação assistida. É o caso, por exemplo, de dois homens que buscam uma amiga para receber o sêmen de um deles e conceber uma criança. Algumas vezes forma-se aí uma relação consistente, um misto de amizade e de família, fruto de uma operação não só biológica mas também simbólica, já que um dos parceiros se mantém ausente da procriação de uma criança com a qual poderá, mais tarde, constituir uma relação parental. Há ainda duas outras manifestações interessantes de amizade: a trazida por casais que se separam e, ao constituir novas relações amorosas, mantêm os antigos parceiros no rol dos amigos; e as relações amistosas criadas pelos filhos dos diferentes casamentos de seus pais.

Enfim, se de um lado as relações humanas permanecem frágeis, tensas e em muitos sentidos desestimuladas pelo cotidiano massacrante do trabalho e pelas imposições do mundo fragmentado em que vivemos, de outro, elas têm atualmente maior amplitude de possibilidades de criar e recriar experiências, tanto na vida privada como na pública. Além disso, nos últimos anos as sociedades têm se tornado mais libertárias, e, em consequência, os sujeitos adquirem mais recursos para reconhecer e lutar por seus direitos civis. Gilles Lipovetsky talvez tenha razão ao escrever: “Quanto mais frustrante é a sociedade, mais ela promove as condições necessárias para uma reoxigenação da vida

* Maria Consuêlo Passos psicanalista de casal e família, doutora em psicologia social, pesquisadora de temas de família e desenvolvimento humano, docente do programa de pós-graduação em psicologia clínica da Universidade Católica de Pernambuco.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/amizade.html